A Evolução da Língua Portuguesa: Das Origens ao Português Atual - Quero Saber

A Evolução da Língua Portuguesa: Das Origens ao Português Atual

A Evolução da Língua Portuguesa: Das Origens ao Português Atual

A Evolução da Língua Portuguesa: Das Origens ao Português Atual



A Complexidade da Língua Portuguesa

    A língua portuguesa é uma das línguas mais complexas e ricas do mundo, sendo falada por quase 4% da população mundial. É uma língua românica com fortes origens latinas e com um desenvolvimento interessante e surpreendente. No Artigo de hoje, vamos falar brevemente sobre como o latim evoluiu para a língua portuguesa.

Origens Romanas: O Latim na Península Ibérica

    No século III a.C., a península ibérica já fazia parte de Roma, tendo sido conquistada ainda no período da República Romana. As províncias da Espanha e Lusitânia foram algumas das mais prósperas províncias romanas, berço de imperadores e grandes líderes militares. A língua falada na Roma antiga era o latim.

Variações Linguísticas: O Latim Urbano e Rustico

  Um fenômeno bem interessante, similar ao que acontece hoje em países de língua portuguesa. Se você frequenta o ambiente universitário ou até mesmo jurídico, pode perceber que existe um tipo de linguagem usado nos trabalhos acadêmicos e nas conversações sobre assuntos teóricos, o que, por outro lado, é bem distinto da linguagem utilizada no interior, no âmbito rural, falada por pessoas iletradas e cujas expressões e falas são repletas de regionalismos e, muitas vezes, com acentuação de sotaque. Nenhum deles é pior ou melhor, apenas diferente. A beleza do idioma comum está em juntar um acadêmico ou jurista e um humilde agricultor, mesmo com vocabulário diferente, para que, ao se encontrarem, possam se comunicar e se entender perfeitamente. Essa é a beleza de um idioma comum, com classes gramaticais e vocabulário básicos que todos dominam.

Unificação do Latim: Sermo Urbanus e Sermo Rusticus

    O mesmo se passava também no Império Romano. O latim que se falava na Itália se entendia perfeitamente na Gália ou na Espanha, pois tinha a mesma base, embora tivesse dois tipos de fala: o "sermo urbanus," a linguagem da cidade, e o "sermo rusticus," a linguagem do campo. O "sermo urbanus" era o latim clássico, aquele que vemos nos livros e inscrições dos edifícios. Esse é o latim que normalmente estudamos, um idioma cheio de declinações, sintaxes interrelacionadas, com tudo se encaixando perfeitamente. Ele era tanto falado quanto escrito, pois era usado pelas pessoas das cidades que tinham um alto grau cultural.

Latim Vulgar: A Evolução da Linguagem no Campo

    Em Roma, haviam escolas públicas que foram a base da unificação da cultura e do idioma necessários para administrar todo o império. Por outro lado, as escolas não chegavam a todos os lugares, e o latim que as pessoas do campo, sem educação formal, falavam, chamava-se Latim Vulgar, que não era escrito, apenas falado. Uma vez que as pessoas que o usavam não sabiam escrever nesse latim popular vulgar, usavam menos declinações e mesclavam o latim com outras línguas regionais que existiam antes da chegada dos romanos. No entanto, Roma conseguiu que houvesse uma unidade idiomática em que os falantes de latim clássico e do latim vulgar podiam se comunicar com naturalidade e entendimento.

Mudanças na Península Ibérica: Invasões Bárbaras e a Evolução da Língua

  Quando os visigodos e outras tribos bárbaras entraram na península ibérica por volta do século V, o latim clássico começou a se perder aos poucos, e o latim vulgar ganhou mais espaço. O que era mais complexo no idioma passou a se simplificar, e o que já era simples prevaleceu. Portanto, as línguas românicas que conhecemos hoje não nasceram necessariamente da língua mãe culta, que era o latim clássico, mas sim do humilde, mas ativo e sobretudo realista latim vulgar, que ia adaptando a língua às necessidades reais do dia a dia.

Diversidade Linguística: O Surgimento das Línguas Românicas

    No século V, o latim falado começou a mudar, principalmente devido à falta de comunicação e à falta das estruturas unificadoras desempenhadas pelas escolas. Começaram a aparecer diferentes formas de falar o latim na Itália, na Espanha e na França, inclusive formações diferentes dentro da Itália, dentro da Espanha e dentro da França. Isso ocorreu com as invasões e migrações dos visigodos e outras tribos bárbaras. Curiosamente, os invasores, aos poucos, abandonaram suas línguas originárias, pois encontraram na língua corrente, que era falada por todos, uma facilidade maior de se comunicar com os habitantes locais, que estavam em muito maior número. Além disso, essas línguas locais tinham muito mais capacidade cultural do que a língua que eles traziam, e, justamente por isso, se adaptaram.

Preservação da Língua: O Papel da Igreja e das Universidades

    No entanto, o latim clássico escrito permaneceu, mesmo que em ambientes bem reduzidos e, especialmente, ligados à igreja, que nesse ponto já tinha alcançado bastante influência na sociedade. Porém, por precisar, o latim ser resgatado por meio das universidades e já distante da pulcritude e conexão espetacular do latim clássico, começou a se desenvolver de um modo bem menos sofisticado, o que se chama de "baixo latim," que é a língua que se escreveu durante toda a Idade Média e que foi o latim ensinado em todas as universidades que surgiam na Europa.

Evolução Constante: A Transformação do Latim Vulgar

    O latim vulgar, também com o passar do tempo, foi evoluindo de forma constante e rápida, ao ponto de, no século VI, já se poder dizer que as línguas na Ibéria eram completamente diferentes do latim vulgar. Daí porque se chamam "pré-românicas," que têm origem no latim, mas que já são línguas distintas. Essas línguas são chamadas "pré-românicas." Bem subdesenvolvidas das línguas românicas propriamente. Na península ibérica, surgiram como dialetos pré-românicos o leonês, o castelhano, o navarro-aragonês, o valenciano, o catalão, o moçárabe (que era um dialeto oriundo do latim falado pelos cristãos sob domínio mouro) e o galego-português, que é a língua que originou as línguas românicas do galego e do português.

O Galego-Português: Um Idioma em Transformação

    O galego-português foi uma língua muito comum, especialmente nas cortes estrangeiras, devido à sua proximidade com o latim vulgar. O rei Afonso X, o sábio, rei de Castela, por exemplo, utilizando o idioma galego-português, fez as tão famosas cantigas de Santa Maria em belíssimos códices ilustrados, nos quais várias centenas de cantigas relatam prodígios, aventuras, milagres e acontecimentos espetaculares em forma de rimas musicadas. É possível reparar também a semelhança enorme do texto dessas cantigas do século XII com o português atual. 

Cantigas de Santa Maria, de D. Alfonso X, o Sábio (ARS)Criador: Giovanni Scorcioni Direitos autorais: © 2010-2015 Facsimile Finder


Inovações Linguísticas: A Transição para o Português

    Um dos pontos interessantes na formação do galego-português é que a língua ia mudando, e as pessoas simplesmente não notavam que já estavam falando uma nova língua. Para elas, ainda estavam falando o latim. Um dos documentos considerados o mais antigo escrito em galego-português está a carta da fundação da igreja de Lardosa do século IX, e a notícia dos fiadores do século XI. Já no português, um dos documentos mais antigos é o testamento de Dom Afonso I de 1214, tido por especialistas como escrito já em português.

Transformações Vocabulares: Metaplasmos e Derivações

    Outro ponto interessante é observar os caminhos e transformações das palavras saindo do latim e evoluindo para o português com o passar do tempo. Algumas dessas transformações levam a palavras divergentes, ou seja, palavras diferentes que vieram da mesma origem, como é o caso de "pleno" e "cheio," ambas vindas da palavra Latina "pleno." Já outras transformações geram palavras convergentes, palavras iguais, mas com origens diferentes, como "são," que pode ser o verbo da terceira pessoa do plural, um adjetivo ou uma abreviação da palavra "santo." Esses processos de transformação são chamados no português de "metaplasmos," e é interessantíssimo ver como essas modificações ocorreram no latim para gerar palavras em português de som similar. Os fonemas podem surgir, sumir ou mudar no decorrer do tempo. Por exemplo, a palavra "stella" recebeu um "e" no começo, um "r" no meio e perdeu um dos "l," virando "estrela." Já a palavra "scuto" recebeu um "e," sofreu a sonorização do "t" que virou "d" e mudou o "u" para o "o," virando "escudo." O verbo "tônica" virou "ponere," depois perdeu o último "e" e depois perdeu o "n," virando "poer," e, por fim, juntou as duas vogais em uma só, virando "por." Por isso, inclusive, que o verbo "por" é de terceira conjugação.

Conclusão: A Fascinante Evolução da Língua Portuguesa

   Ao longo deste percurso histórico da evolução da língua portuguesa, pudemos testemunhar como uma língua românica, de origens latinas, floresceu e se transformou ao longo dos séculos. Da Roma antiga à península ibérica medieval, a língua passou por uma complexa e fascinante jornada de mudanças, adaptações e influências.
    O processo de transformação do latim para o português é uma prova vívida da resiliência e da adaptabilidade das línguas humanas. Diante das invasões bárbaras e da evolução cultural, a língua não apenas sobreviveu, mas também se enriqueceu, absorvendo novos elementos e diversificando-se em diferentes dialetos. Essa capacidade de mudança e adaptação é uma das razões pelas quais o português é uma língua tão rica e expressiva.
    Ao compreendermos as origens e as transformações do português, ganhamos um profundo apreço pela complexidade e pela diversidade dessa língua que falamos e escrevemos todos os dias. A evolução da língua portuguesa é uma narrativa fascinante que nos conecta não apenas ao passado, mas também ao presente, à medida que continuamos a moldar e a enriquecer essa língua em constante evolução.

    Portanto, ao celebrarmos a jornada da língua portuguesa, reforçamos nosso compromisso em preservar, valorizar e enriquecer essa herança linguística única, assegurando que as gerações futuras também possam explorar a beleza e a profundidade da "última flor do Lácio," o idioma português.

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